terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

ENECO 2009 + ELECO: Integração latino-americana em tempos de crise



Durante vários anos, grande parte dos economistas colocou como único caminho frente a essa nova ordem “globalizada” da economia mundial, a liberalização comercial e financeira, a desregulamentação dos mercados e a “redução” do Estado, idéias que constituíam as bases do pensamento econômico dominante neoliberal. Aos poucos essas idéias se transformaram em verdadeiros dogmas, tendo como eixo central a fé inabalável no bom funcionamento dos mercados. Aqueles que tentassem falar contra eram rapidamente excluídos do debate e colocados como ideólogos de pensamentos ultrapassados.

Com o momento de ascensão cíclica da economia mundial, marcado por um considerável crescimento dos chamados países emergentes nos últimos anos, formou-se um verdadeiro clima de otimismo nos mercados financeiros. Essa situação gerou um impulso para a onda de inovações financeiras, comandada por um processo de securitização sem precedentes na história do capitalismo.

Frente a esse período de tranqüilidade e elevados lucros com especulação, surge um “problema” no mercado de hipotecas subprime nos Estados Unidos. Inicialmente isso não representou grande alarde, pois se acreditava que ficaria restrito ao mercado desses títulos de baixa qualidade. Contudo, essa crença durou somente até o momento que importantes bancos, bancos de investimentos e seguradoras norte-americanas, começaram a apresentar resultados preocupantes, anunciando um sério risco de falência. Nesse momento instaura-se um clima de muitas dúvidas e começa a aparecer claramente a incompetência da teoria econômica dominante para a explicação dessa realidade e para propor soluções frente à grande crise que se anunciava. Pois essa teoria tradicional considera que a economia caminha do melhor modo no melhor dos mundos possíveis. Dessa forma, esses teóricos, antes considerados “gênios financeiros”, já haviam praticamente afastado de suas análises a possibilidade de uma crise sistêmica nessas proporções.

Restou ao governo norte-americano o seguinte dilema: manter o padrão de comportamento (neoliberal) que vinha difundindo como ideal para o resto do mundo ou salvar os grandes bancos evitando ainda maiores efeitos para o sistema financeiro e para a economia norte-americana como um todo. A opção adotada ficou muito clara com a estatização de várias empresas e a injeção de bilhões de dólares na economia, socializando as perdas e desviando-se de toda a ideologia contra a intervenção estatal nos mecanismos de mercado.

Claro que com a liberalização financeira que se praticou nas décadas anteriores em escala global, essa crise não ficaria restrita a economia norte-americana e rapidamente se espalharia para os demais países, com destaque inicialmente para a Europa e alguns mercados asiáticos. Com os primeiros efeitos dessa crise sobre o lado real da economia, os países, de maneira geral, começaram a sentir os impactos. Ocorrendo redução no nível de investimentos e assim diminuição no número de empregos, o que ainda gerará grandes prejuízos para a classe trabalhadora em diversas partes do mundo.

No Brasil, apesar do governo e da grande maioria dos economistas (bons importadores das teorias dos países centrais) anunciarem que essa crise chegaria apenas como uma marola, pois o nosso país estava blindado, o que começa a se observar é uma saída expressiva de capitais, deterioração do saldo da nossa balança comercial e um aumento considerável na remessa de lucros. Esse desequilíbrio estrutural típico da nossa condição de país subdesenvolvido e dependente não se manifesta unicamente no lado externo, mas também através de uma redução no nível de investimentos da economia brasileira, adiando o tão prometido “espetáculo do crescimento”.

Como destacamos a crise financeira mundial não deve poupar o Brasil, assim como os demais países latino-americanos. Por isso, esse é um importante momento para refletirmos não somente sobre novas teorias explicativas da realidade, mas também para pensarmos na possibilidade real da integração latino-americana. Contudo, é importante destacar a nossa crença que essa integração deve ir além de uma negociação de tarifas comerciais ou uma integração meramente mercadológica, e sim promover uma integração entre os povos da América Latina, nos seus aspectos culturais, políticos e econômicos.

Portanto, no Encontro Nacional dos Estudantes de Economia vemos a necessidade de refletirmos sobre a situação econômica atual, debatendo as possíveis transformações que essa crise trará para a economia mundial e para o Brasil. Além disso, aproveitarmos esse momento rico em questionamentos sobre a lógica econômica e as idéias até agora predominantes para colocarmos em pauta um tema central para o nosso país, que é o da integração latino-americana.